Se você parar pra pensar por um minuto na própria existência, apenas por um minuto e nem precisa mais do que isso, vai chegar a conclusão de que você não devia ter começado a pensar nisso. Você evitaria atravessar a rua, não iria pra escola estudar amanhã, ou para o trabalho. Não comeria grande parte das coisas que você come, não andaria mais descalço, prestaria mais atenção nas roupas que você usa, e com certeza não entraria mais no orkut ou no msn. Aliás, você aposentaria o computador. E a televisão. Ou então ficaria ainda mais dependente dele. A fragilidade humana é absurda. Você pode morrer amanhã, e eu não falo de uma morte coletiva causada por um meteoro gigante que bata na Terra, falo de qualquer coisa. Atropelado por um ônibus imenso ou com convulsões e dores causadas do nada por uma microbactéria ou protozoários datados do arqueozóico. Então pensando nisso é melhor a gente não pensar nisso. Inclusive, falando em vida, ela é cheia dessas coisas inexplicáveis. Ela esqueceu de nos dar um manual de instruções explicando a lógica que ela usa para reger as coisas quando tivemos a infelicidade de nascer e estar renegado à triste sina de viver. E pra piorar as coisas ela te dá um cérebro e um coração e te obriga a conviver com os dois. E em (suposta) harmonia! Vê a ironia disso? E contrariando qualquer racionalidade que eu entenda, faz o segundo predominar sobre o primeiro. O seu cérebro vai sentir o nível de serotonina cair para o nível de neurose - que deveria provocar depressão, mas até o cérebro vive em um paradoxo particular - e resultar na adoração do seu objeto de afeição, e ir agindo feito uma droga. Mas aí o efeito da droga passa e o corpo não se imagina mais sem o seu objeto queridinho. Enquanto seu não tão desenvolvido cérebro pensar nisso, seu coração vai simplismente dizer "Parabéns! Você se apaixonou!... babaca!" (isso seguido de uma risadinha diabólica). E claro, o objeto não podia ser simplismente um CD com músicas legaizinhas ou uma barra de chocolate, tem que ser outra pessoa, que também é fodida pela vida. Tá vendo? Pra quê parar pra pensar em coisas do tipo? É tão melhor jogar truco, tocar uma música, dançar uma dança, ouvir sua canção preferida, fazer uma pulsera com linhas enceradas compradas em frente ao Banco do Brasil ou dormir mesmo.